A disseminação do coronavírus está gerando grande impacto negativo para o turismo internacional. Milhares de chineses estão deixando de viajar pelo mundo, por conta da situação de emergência global. No último sábado, Bill Egerton, que dirige uma agência de turismo em Queensland, na Austrália, recebeu um e-mail de cancelamento de excursões de chineses ao país, que dá um panorama da situação.
“Perdi 15 excursões de chineses em fevereiro. O mercado chinês representa de 10% a 20% dos meus negócios. Os parques temáticos sofrerão, os hotéis sofrerão … Aqueles grandes grupos podem ter entre 20 e 500 pessoas. A China é de longe o nosso maior mercado”, disse Egerton, de 77 anos, que dirige a Koala Blue Tours, à CNN Travel.
Por conta do coronavírus, a China proibiu excursões e vendas de pacotes de hotel e voo. A suspensão já está provocando impacto em dezenas de destinos ao redor do planeta. A China é o maior mercado mundial de viagens de ida e volta, passando de 4,5 milhões de viajantes, em 2000, para 150 milhões de pessoas, em 2018.
Na Costa do Ouro, que é o principal destino turístico da Austrália, os viajantes chineses são maioria. Eles gastaram US$ 1,6 bilhão em 2019. Somente no ano passado, a Austrália recebeu 9,45 milhões de visitantes até novembro. Desse total, 1,4 milhão de turistas vieram da China, gastando US$ 12,3 bilhões.
O turistas da China também são os que mais gastam do mundo, respondendo por US$ 277 bilhões — ou 16% do total mundial de US $ 1,7 trilhão em gastos com turismo internacional, segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT). A estimativa é que o maior impacto da suspensão das viagens seja observado na região da Ásia-Pacífico. Partes da Europa e das Américas também estão sentindo os efeitos.
Restrições internacionais
O Departamento de Estado dos EUA também já alertou seus cidadãos para que não viagem para a China. O mesmo foi feito pelos governos do Reino Unido e do Canadá. Empresas aéreas como United, American, Delta, British Airways, KLM, Air Canada e Lufthansa suspenderam voos para muitas cidades chinesas, enquanto outras, como a Cathay Pacific, reduziram as frequências.
Na sexta-feira, os EUA também anunciaram que estão proibindo temporariamente a entrada de estrangeiros que visitaram a China nos últimos 14 dias. O Ministério da Saúde de Cingapura, por sua vez, anunciou que todos os novos visitantes que estiveram na China continental nos últimos 14 dias não terão permissão para entrar ou transitar pelo país.
Hong Kong, Macau, Mongólia, Coréia do Norte e Rússia fecharam parcial ou totalmente suas fronteiras com a China, para impedir a propagação da doença. Como resultado dessas restrições, destinos turísticos tipicamente movimentados como Angkor Wat no Camboja, o Palácio Dourado em Bangcoc ou o Palácio Imperial em Tóquio ficaram mais vazios.
Relatório
Um relatório elaborado pela ForwardKeys — uma empresa de análise de viagens que monitora 17 milhões de transações de reservas por dia — mostra o impacto do coronavírus no setor durante o período do Ano Novo Chinês. A companhia analisou as viagens de ida e volta durante a primeira parte do feriado do Ano Novo Chinês, de 19 a 26 de janeiro, e constatou que as reservas aumentaram 7,3% no período que antecedeu o Ano Novo Lunar, em comparação com 2019. No entanto, após a entrada em vigor da proibição de viagens, a empresa registrou uma queda de 6,8%.
A região Ásia-Pacífico, que geralmente recebe 75% dos viajantes do Ano Novo Lunar da China, foi a mais atingida.
Região mais afetada
Destinos como Tailândia, Vietnã, Coreia do Sul e Japão — onde os viajantes chineses representam grande parte do fluxo e dos gastos com turismo — foram particularmente afetados pela proibição de viagens. Em 2018, a China contribuiu com 51% do PIB de viagens e turismo na região da Ásia-Pacífico, de acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC).
Na Tailândia, onde os viajantes chineses respondem por 30% das chegadas, as consequências do coronavírus já foram sentidas. Segundo Vichit Prakobgosol, presidente da Associação de Agentes de Viagem da Tailândia, cerca de 1,2 a 1,3 milhão de viajantes chineses cancelaram as visitas ao país em fevereiro e março.
“O efeito pode durar até abril. É difícil estimar no momento”, disse Prakobgosol à CNN Travel.
Muitas empresas de turismo nos principais destinos turísticos, como Bangkok, Phuket, Chiang Mai e Pattaya, fecharam as portas. .Em Pattaya, pelo menos duas empresas de cruzeiros com jantar — All Star Cruise Pattaya e Oriental Sky — anunciaram que suspenderam as operações indefinidamente a partir de 1º de fevereiro.
“Temos que suspender nosso serviço indefinidamente, ou até vermos que a situação melhorou. É nossa própria iniciativa impedir a propagação da doença entre nossos hóspedes ou nossos próprios funcionários”, disse Suthasinee Srimala, diretor de Vendas e Marketing da All Star Cruise Pattaya, acrescentando que a empresa reembolsará os clientes afetados
De acordo com Yuthasak Supasorn, governador da Autoridade de Turismo da Tailândia, cerca de 80% dos voos reservados da China para o país foram cancelados entre fevereiro e abril.
“Isso resulta em uma perda estimada em cerca de US$ 3 bilhões”, disse Supasorn.
No Japão
No Japão, onde os viajantes chineses representam cerca de 27% dos visitantes estrangeiros, houve uma enxurrada de cancelamentos de excursões. O país recebeu 9,6 milhões de chineses em 2018, respondendo por um terço dos gastos de turistas estrangeiros no país. Eles também gastaram US$ 15,6 bilhões em 2019, o que representa 36,8% de todos os gastos de estrangeiros. Por isso, muitas empresas de turismo estão apreensivas.
“Estamos preocupados com a diminuição de turistas chineses, mas não podemos prever o resultado, pois depende de quanto tempo dura a política chinesa”, disse o porta-voz da Organização Nacional de Turismo do Japão, Shiho Himuro, à CNN Travel.
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